segunda-feira, 23 de maio de 2011

Retrato: Entrevista com a ministra da cultura Ana de Holanda

A cultura de Ana



Para a primeira mulher à frente do MinC, Osasco simboliza o início do aprendizado de como a cultura se faz por meio do diálogo

Por CLÁUDIO MOTTA JR. e ELINEUDO MEIRA
Colaboração: Cintia Salles

A relação de Ana de Hollanda com a produção de cultura vem desde o berço. Integrante de uma importante família de artistas e intelectuais, a ex-secretária de cultura da cidade de Osasco e atual ministra da cultura é a primeira mulher a assumir o maior posto do MinC, desde o seu desdobramento do MEC – Ministério da Educação e Cultura, em 1985, e também a primeira titular da pasta a visitar a cidade. Filha do historiador Sérgio Buarque de Hollanda com a pianista Maria Amélia Alvim, a ministra é a sexta de um grupo de sete filhos, que incluem os cantores Chico Buarque, Miúcha e a sambista Cristina Buarque.

Cantora desde os 16 anos de idade, com vários trabalhos de destaque, Ana de Hollanda já trabalhou como atriz, diretora de filmes, produtora, compositora, professora, mas sua trajetória ganhou mais visibilidade após iniciar a carreira de gestora pública ligada à cultura. A partir de uma forte militância junto à classe artística, a atual ministra ingressou nos debates sobre políticas públicas quando ainda era jovem, tendo pertencido aos antigos quadros do PCB (Partido Comunista Brasileiro) durante a ditadura militar.

Notadamente por seus ideais progressistas, ela despontou como liderança na área cultural em 1983, quando chefiou o departamento de música do Centro Cultural São Paulo. Depois disso, em 1986, Ana foi nomeada pelo então prefeito de Osasco, Humberto Parro (PMDB), como Secretária da Cultura da cidade. Apesar de ter ocupado o posto somente por dois anos, sua gestão à frente da secretaria é até hoje muito elogiada pelos artistas osasquenses.

Motivos pessoais a afastariam temporariamente da área de políticas culturais, durante a década de 90. Voltou a trabalhar com gestões públicas no início do Governo Lula, onde dirigiu o centro de música da Funarte e o Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro.

Depois de percorrer caminhos que a distanciaram de nossa cidade, a ministra Ana de Hollanda voltou a Osasco para participar do Congresso Brasileiro de Teatro. O evento aconteceu nos dias 26 e 27 de março, no Centro de Formação de Professores e contou com mais de 300 representantes ligados ao teatro. “Devo muito a essa cidade. Aqui comecei a aprender o que é e como se faz a gestão de cultura: dialogando”, disse a ministra.

Durante o encontro, Ana de Hollanda concedeu uma entrevista exclusiva ao Blog da Cultura. Confira alguns trechos do depoimento da ministra:

Experiência como Secretaria da Cultura de Osasco “A minha experiência foi fantástica. Aqui é um microcosmo do Brasil. Um lugar onde tive que aprender a lidar com a sociedade, a ouvi-la, ver como ela pensa e sente, quais são os seus anseios, suas características e sua cultura. Aqui tentei ser um instrumento para impulsionar o trabalho dos artistas, entendendo que eles são um reflexo da sociedade e estimulando assim a relação da cultura desse povo com o próprio povo”.

Parceria entre o MinC e os municípios “Nós vamos estabelecer parcerias com os municípios para criar espaços culturais, como teatros, auditórios, bibliotecas, CRAS – Centro de Referência da Assistência Social. Também serão estabelecidas relações nos esportes, lazer e área social, em regiões com uma alta vulnerabilidade social.
Essa parceria tem que ser feita com apoio da Caixa Econômica a fim de que cheguem às prefeituras, pois são elas que darão continuidade junto com a sociedade local, com a comunidade.”

Economia Criativa –  “A economia criativa é realmente o grande apelo que se manifesta no mundo inteiro, porque normalmente se fala de cultura sempre como algo dispendioso – você faz e não mede para onde vai, como será o lugar e que resultado irá receber. Sentimos que estava na hora do Ministério não só agir como uma pasta que cuidaria do acervo, mas com uma postura transversal, que a partir de um mapeamento do que está sendo produzido, pensar todas as ações posteriores.
Hoje trabalhamos também com outras áreas que não eram consideradas cultura, como a moda, o design, a arquitetura – culturas da indústria –, que rendem trabalho, rendem postos de serviços, rendem ao PIB nacional, pela movimentação de ações culturais que geram.
A gente precisa estudar uma forma de tornar essa atividade mais auto-sustentável para todos. Eu tenho certeza que quando tiver uma medição mais completa do peso da economia criativa no PIB nacional, o olhar para a cultura será bastante diferente.”


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